LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ENSINO MÉDIO PROFESSORA LUZA MAI Língua Portuguesa: 4. LEITURA - A ATRIBUIÇÃO DE SENTIDOS

segunda-feira, 4 de julho de 2016

4. LEITURA - A ATRIBUIÇÃO DE SENTIDOS

CAULOS. Só dói quando eu respiro. Porto Alegre: L&PM, 2001
Para ler o texto acima, não basta observá-lo. Temos de interpretar o código utilizado: livros voando, um homem  correndo atrás deles com uma redinha em uma das mãos e uma tesoura na outra. O que a linguagem não verbal  tenta representar? Qual é a essência do texto? Observe que apenas “decodificar” os desenhos não possibilita a  compreensão da mensagem. Mas, se associarmos à decodificação o conhecimento de que o autor da charge a criou  na época de um regime totalitário e se relacionarmos os signos utilizados a esse momento político, tudo ganha  sentido. O homem está tentando caçar livros (transformados em borboletas, ideias voando, livres) para censurá-los  (a tesoura é mais do que um instrumento cortante; na charge, é a representação da censura). Agora sim, lemos o  texto! 
É interessante perceber que, se tirássemos o signo “tesoura” do texto, o sentido mudaria totalmente, nossa  leitura seria outra. Nesse caso, como você interpretaria a mensagem?  


LER É ATRIBUIR SENTIDOS

Ao utilizar linguagens para interagir, veiculamos mensagens que só atingem sua finalidade no processo comunicativo quando possibilitam a leitura. A leitura, portanto, é a ponte que nos permite o acesso ao universo dos textos e a inúmeros outros universos neles contidos ou referidos. 

Mas em que consiste a leitura? 

Como vimos na charge de abertura, não basta conhecer o código para compreender uma mensagem. Ler não é apenas decodificar. Com a decodificação entendemos o que querem dizer as partes do todo. Mas e o todo, o texto? A decodificação é só um passo no processo que envolve a leitura. Voltemos à charge de Caulos, sistematizando os passos da leitura:

  • decodificação - reconhecimento dos signos não verbais utilizados Resultado de imagem para caulos só doi eu respiro
  • Identificação do tipo de texto e da forma como é veiculado - trata-se de uma charge, veiculada num livro publicado pela L&PM em 1976.
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  • Contexto histórico do país na época da publicação - Em 1976, o Brasil estava sob o regime militar.
  • Conhecimento ideário do autor da charge - Desenhista, que desde o início da sua carreira, evidenciou na sua linguagem denúncias e críticas ao descaso com o meio ambiente, ao mecanicismo da vida moderna e, especialmente, à falta  de liberdades democráticas no país.
  • Associação de signos e sua relação com as demais informações - tesoura = CENSURA
        Resultado de imagem para caulos só doi eu respiro
a tesoura na mão = censura

Findo esse percurso, concretizamos a leitura do texto. Dessa forma, podemos afirmar que ler é um processo mental que começa com o conhecimento do código utilizado na mensagem e que envolve inúmeras associações. A compreensão efetiva de um texto exige do leitor um trabalho árduo, em que a capacidade de inferência das entrelinhas, da intencionalidade e dos sentidos que o texto sugere é fundamental. A leitura é um processo pelo qual se constrói sentido em um texto.


Como atribuir sentido em textos verbais?  

Como já vimos, ler um texto é um processo que envolve vários tipos de conhecimento. Quando se trata de  um texto verbal, esse processo consiste basicamente em ativar:  

o conhecimento linguístico, isto é, o domínio do código, da língua, que permite decodificar o texto e fazer as  associações gramático-estruturais das partes que o formam; 

o conhecimento de mundo, forjado a partir das vivências e do acúmulo de informações culturais, ideológicas,  intelectuais. Ele possibilita levantar hipóteses sobre o que o texto quer dizer e estabelecer relações com a  realidade;  

as leituras prévias, que também permitem levantar hipóteses sobre o que o texto quer dizer e relacioná-lo às  leituras já feitas;

a reflexão, que permite não só estabelecer todas as relações anteriores, mas também projetar outras, construindo sentido no texto ao mesmo tempo que forma e/ou amplia a leitura de mundo do leitor.

A inferência
 A inferência envolve a leitura das entrelinhas, da intencionalidade e dos sentidos que o texto sugere e que não estão explicitados. É resulta- do das conclusões a que chegamos ao fazer as associações e relações de todas as informações (linguísticas, contextuais, de mundo, etc.) ditas ou sugeridas no texto.

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ATIVIDADES

Leia o seguinte texto:
                                                        
                                                           Departamento Estadual de Trânsito de Goiás
                                                          (DETRAN - GO) Texto distribuído a motoristas em Goiânia 

1. Qual é o pré-requisito fundamental para a leitura desse texto?
2. Considerando a intencionalidade do texto, uma leitura que o entenda como um texto apenas informativo é muito limitada. Explique a afirmação, destacando elementos como tipo de texto, público-alvo (interlocutor), produtor do texto, conhecimento de mundo, etc.
3. A partir das relações e associaçõeds, assim como também da inferência, escreva possíveis frases curtas que traduziriam o sentido do texto, conhecimento de mundo, etc. 

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O PRIMEIRO CONTATO COM O TEXTO

O primeiro contato com o texto nem sempre envolve a leitura propriamente dita, mas uma preparação para a leitura. Assim, antes de começar a ler o texto, poemos direcionar a nossa leitura e tentar levantar hipóteses do que encontraremos nele.

Objetivos para a leitura

A leitura pode ter as mais variadas motivações. Identificar seu objetivo nos permite traçar as características do processo de leitura a ser feito e/ou as estratégias que serão potencializadas.
vamos ver alguns exemplos práticos:

  • ler para buscar alguma informação específica dentro de um texto (consultar um verbete de enciclopédia; ler uma bula para se informar sobre a posologia do remédio) = A LEITURA SERÁ INVESTIGATIVA - as estratégias potencializadas serão a procura de indícios que nos levem à informação específica e a despreocupação em relação ao conteúdo global do texto.
  • ler para obter uma noção global sobre o assunto do texto ( artigo em jornal; texto sobre escritor ou pensador para ter uma noção geral de seu pensamento) = A LEITURA SERÁ GLOBAL - as estratégias serão a preocupação com o sentido integral e o levantamento das palavras-chave do texto.
  • ler para entender um procedimento (manual de instruções, receita) A LEITURA SERÁ PASSO A PASSO - a estratégia será seguir a ordem lógica e metódica do texto.
  • ler para fazer uma revisão gramatical de um texto segundo a norma culta = A LEITURA SERÁ FISCALIZADORA - as estratégias serão a preocupação com as estruturas formais utilizadas e a inspeção do bom emprego delas em função do sentido do texto.
Observe o texto e escreva o que se pede:


a) Objetivos de leitura;
b) Propostas de como seria a  melhor maneira de ler o texto, segundo os objetivos determinados.


As informações sobre o texto

Muitas informações relevantes para a leitura do texto não se encontram na mensagem propriamente dita. Observe alguns exemplos de elementos que podem propiciar antecipações em relação à leitura:

  1. GÊNERO TEXTUAL - a identificação do gênero textual (artigo de jornal, propaganda, romance, artigo científico, charge, receita, piada, etc.) permite a antecipação da construção textual e da possível intenção do falante. Por exemplo, ao ler o editorial de um jornal, conhecendo as características básicas do gênero, podemos esperar um texto marcado por sequências argumentativas com o intuito de fazer a defesa de uma posição em relação ao assunto, na tentativa de ganhar a adesão do leitor; portanto, o reconhecimento desse gênero nos prepara para a leitura: não esperaremos um texto narrativo, nem descritivo, mas um texto argumentativo.
  2. O AUTOR -  a identificação do autor do texto (sua história, profissão, sua ideologia, sua área de estudo ou trabalho, etc.) permite antecipar a temática ou a tendência do texto. Por exemplo, se o texto é assinado por um pesquisador na área de biologia, podemos esperar um desenvolvimento temático voltado para essa área do conhecimento; se é assinado por um líder comunitário, podemos esperar um desenvolvimento temático que ressalte, por exemplo, o lado social, etc.
  3. A ÉPOCA - a identificação da época, do contexto histórico em que estava inserido o texto quando foi produzido. Por exemplo, um texto que fale sobre o futuro de um país, produzido num momento em que esse país atravessa uma grave crise político-econômica, será construído de forma diferente de um outro produzido em épocas de prosperidade.
  4. O VEÍCULO OU O SUPORTE - a identificação do veículo que disponibiliza o texto (jornal, revista jovem, revista especializada, boletim de uma associação, etc.) suas características ideológicas, seu público-alvo, sua tiragem podem antecipar algumas informações relacionadas ao texto a ser lido: um artigo sobre moda numa revista feminina que tem público-alvo de alto poder aquisitivo e faixa etária acima de 30 anos pode apresentar conceitos muito diferentes se comparados a um artigo sobre o mesmo assunto publicado numa revista feminina voltada para adolescentes.

O título e as expectativas em relação ao texto

O título de um texto cria expectativas em relação a seu conteúdo, levando o autor a formular algumas hipóteses sobre o que ele diz, sobre o posicionamento de quem o produziu. Entretanto, dependendo da experiência do próprio leitor ou das intenções do produtor do texto, nem sempre essas hipóteses se confirmam. Quando, por exemplo, o produtor do texto lança mão de um título irônico, o leitor pode perceber essa ironia só no decorrer da leitura.

Atividade: Faça um levantamento das informações que possam propiciar antecipações em relação aos textos abaixo.



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1. Determine um objetivo e uma possível estratégia de leitura.

2. Quais são os elementos fora da mensagem do texto que podem propiciar algumas antecipações? Cite algumas delas.

3. O título e a foto fazem parte do texto, mas criam uma expectativa inusitada dentro do contexto em que ele está inserido. Por quê?

4. Quais seriam as hipóteses que você levantaria em relação à mensagem do texto?

5. Leia o texto completo. A leitura confirmou ou refutou suas hipóteses?

6. Se você tivesse informações sobre medicina geriátrica e as pesquisas desenvolvidas nos Estados Unidos, sua preparação para a leitura teria sido diferente? Você teria formulado outras hipóteses?

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A LEITURA E A PRODUÇÃO DE TEXTOS


A leitura e a produção de textos estão intimamente ligadas: o texto é produzido para a leitura; a leitura é fundamental na formação do produtor de textos. Ou seja: escrevemos/falamos para sermos lidos/ouvidos; lemos/ouvimos para ampliar nossa leitura de mundo, que se manifesta no que escrevemos/falamos.

Produzimos textos para interagir socialmente, e a sua leitura concretiza esse processo de interação.

- Mas por que a leitura é tão fundamental para produzir textos?
  Pela leitura entramos em contato com:

  • variedade de conteúdos (culturas, áreas do conhecimento, informações em geral);
  • variedade de gêneros textuais;
  • variedade de registros e modalidades da língua.
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PRODUÇÃO TEXTUAL

(UEPG-PR)

"...uma leitura sem compreensão não é leitura. Ler sem compreender é parar na primeira etapa do processo, ou seja, na etapa da decodificação do sinal gráfico. Por isso, a leitura precisa ser atenta, inteligente, uma leitura que haja interação entre o leitor e o texto lido, um atuando sobre o outro. Ler é atribuir significado; é construir um significado para o texto lido."


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QUESTÕES EXTRAÍDAS DE VESTIBULARES

Questões de um vestibular da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), cujo tema é a produção de textos.

Texto 1



A regreção da redassão


Semana passada, recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever.
   - Mas minha senhora – desculpei-me –, eu não sou professor.
   - Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conseguido muito.
   - A culpa não é deles. A falha é do ensino.
   - Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve muito bem. 
  - Obrigado – agradeci – , mas não acredite muito nisso. Não coloco vírgulas e nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao revisor.
  - Não faz mal – insistiu –, o senhor vem e traz um revisor.
  - Não dá, minha senhora – tornei a me desculpar –, eu não tenho o menor jeito com crianças. 
  - E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos.
Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: “Você não deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever.” No dia seguinte, ouvi de outro educador: “O estudante brasileiro não sabe escrever”. Depois li no jornal as declarações de um diretor da faculdade: “O estudante brasileiro escreve muito mal”. Impressionado, saí à procura de outros educadores. Todos me disseram: acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever. Passei a observar e notei que já não se escreve mais como antigamente. Ninguém mais faz diário, ninguém escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes.
Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmente acompanhadas de um coração, feitas em casa de árvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem árvore.
  - Quer dizer – disse a um amigo enquanto íamos pela rua – que o estudante brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a concorrência e me garante emprego por mais dez anos.
 - Engano seu – disse ele. A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que mudar de profissão.
 - Por quê? – espantei-me. – Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver.
  - E você sabe por que essa geração não sabe escrever?
  - Sei lá – dei com os ombros –, vai ver que é porque não pega direito no lápis.
 - Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito da leitura. E quando o perder completamente, você vai escrever para quem?
Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediatamente pensei quais as utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar num açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do Maracanã, para forrar sapado furado ou para quebrar um galho em banheiro de estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer às pessoas, assim como oferece hoje bilhete de loteria:
   - Por favor, amigo, leia – disse, puxando um cidadão pelo paletó.
  - Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que leio é bula de remédio.
  - E a senhoria não quer ler? – perguntei, acompanhando os passos de uma universitária. – A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso.
  - O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto? Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador.
  - E o senhor, não está interessado nuns textos?
  - É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro?
  - E o senhor, vai? Leva três e paga um.
  - Deixa eu ver o tamanho – pediu ele.
Assustou-se com o tamanho do texto:
  - O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vagabundo? Que tenho tempo para ler tudo isso? Não dá para resumir tudo em cinco linhas?

                                                                    
                                                             Carlos Eduardo Novaes.


Texto 2

                                         Estudantes leem, mas não entendem

Brasília (agência Estado) - o aluno brasileiro não compreende o que lê, revela o programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgado ontem. Entre 32 países submetidos ao teste, o Brasil ficou em último lugar. A prova mediu a capacidade de leitura de estudantes de 15 anos, independentemente da série em que estão matriculados.

“Esperava um desastre pior”, disse o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, ao anunciar o resultado. Em primeiro lugar ficou a Finlândia. Em penúltimo, à frente do Brasil, o México. Dos 32 países avaliados, 29 fazem parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – entidade que reúne nações desenvolvidas, como os Estados Unidos ou o Reino Unido, e outras nem tanto, como a Polônia e a República Checa. Também participaram Brasil, Letônia e Rússia.

A prova foi aplicada no ano passado, envolvendo ao todo 265 mil estudantes de escolas públicas e privadas. No Brasil, participaram 4,8 mil alunos de 7ª e 8ª séries do ensino fundamental e do 1º e 2º anos do ensino médio. O objetivo foi verificar o preparo escolar de adolescentes de 15 anos, tendo em vista os desafios que terão pela frente na vida adulta.”

www.Oliberal.com.br/arquivo/noticias/atualidade/n05122001index4.htm 


Texto 3

As escolas poderiam ensinar a escrever, mas não fazem. Não que as aulas de redação sejam em   menor número do que o desejado. O problema é que essa matéria é ensinada de forma errada, por meio de  assuntos distantes da vida real. “Em vez de escrever redações sobre temas vagos, como minhas férias ou  meu cachorro, o aluno deveria ser adestrado nos diferentes gêneros da escrita: a carta, o memorando, a  ficção, a conferência e até o e-mail”, opina o professor Luiz Marcuschi, da Universidade Federal de  Pernambuco.   

Falar e escrever, eis a questão. In: Veja, 7 nov. 2001, p.104-12 


Texto 4










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