2. O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E OS SEUS ELEMENTOS
Mudernos de butique
Tem silicone nessa teoria de que os alternativos estão gastando os tubos para comprar roupa de grife. Quem vê a galerinha suando a camiseta Hering para entrar em festas como Maldita, Loud! e Alien Nation sabe que isso está bem distante da realidade. A turma do lado B anda de buzum e toma cerveja no bar da esquina antes de entrar na boate só pra economizar. Ouve Peaches e não Maria Rita. Coerentemente com essa atitude, seu visual não é uniforme e muito menos caro. Cada um faz o seu, com o que está a seu alcance. E geralmente fica legal. Afinal, estilo não tem marca, muito menos preço. Tem coisa mais triste do que um grupo de meninas vestidas igualzinho passeando no shopping? Cadê a identidade? Ficou em casa? O povo que paga uma baba por uma camiseta, só para parecer “louquinho”, acaba sendo tão fake quanto os peitos daquela atriz quase-famosa. Que tal ser você mesmo? Evita pagar mico e é bem mais barato.
(Carlos Albuquerque. Megazine. O Globo, 28 out. 2003.p. 15.)
Desmembrando o texto acima percebemos um falante (um dos participantes) que manipula um código (sistema de sinais que vai utilizar; por exemplo, a língua portuguesa) para a construção de uma mensagem (texto, enunciado), sobre um referente (assunto, tema), por meio de um canal (meio pelo qual a mensagem é veiculada), e um interlocutor (outro participante) a quem o texto é destinado e que interage com a mensagem para compreendê-la.
Mas será que é só isso? Ao pensarmos o processo comunicativo como ato social e, como tal, concretizando diversas interações sociais por meio da linguagem, temos de levar em consideração o contexto situacional (ambiente externo aos participantes, em que se realiza o processo), a intenção do falante (o que ele quer realmente com a mensagem) e quem é o interlocutor da mensagem. Dessa maneira, um falante, ao formular uma determinada mensagem, além de escolher o assunto, o código e o canal, escolhe o interlocutor e, portanto, terá de adequar sua mensagem às características do interlocutor para agir sobre ele. Por que tudo isso? Porque é o interlocutor que constrói um sentido para a mensagem, fazendo uso de competência de leitura e dos seus conhecimentos prévios, sua ideologia, sua cultura, etc.
Retomando o artigo “Mudernos de butique”, temos, por exemplo, o caso do jornalista (o falante) que, ao direcionar seu artigo (mensagem) para o estudante universitário (interlocutor), faz uso de expressões típicas dessa faixa etária e desse universo e cita exemplos, argumenta em função disso. Assim, tenta atingir seu objetivo: questionar os “mudemos de butique”, tentar convencê-los de que ser alternativo é ser você mesmo, ter identidade, ter estilo não apenas “usar roupa da moda”. Se o jornalista tivesse empregado um tom muito formal, sem levar em conta as características de seu interlocutor, poderia não ser compreendido ou não despertar a atenção dele.
Esse processo a que nos referimos não é uma passagem de informação linear e mecânica, mas sim uma complexa cadeia comunicativa:
As Competências dos Participantes
No esquema acima, podemos observar que tanto para o falante como para seu interlocutor são apontados diversos conhecimentos e características que vão interferir no processo comunicativo.
A competência comunicativa, isto é, a habilidade que um indivíduo tem para lidar com a linguagem, seja formular enunciados (no caso do falante), seja para atribuir sentido a eles (no caso do interlocutor), envolve o conhecimento de uma determinada língua, suas variantes e registros. Se um falante formula um enunciado em japonês para um interlocutor que desconhece essa língua, não se completará o processo comunicativo; se um falante formula um enunciado em um registro ultraformal para um interlocutor de apenas cinco anos, provavelmente o processo comunicativo não será inteiramente efetivado.
A ideologia e a cultura dos participantes estão presentes na formulação e na leitura de um texto, condicionando e limitando as duas atividades, pois incluem o conjunto de crenças, representações e avaliações do mundo e da vida.
O aspecto psicológico retrata as influências variáveis do humor, da sensibilidade, da capacidade de tolerância, etc. de cada indivíduo no momento exato do processo comunicativo. Muitas vezes, um mesmo enunciado em momentos diferentes pode ser formulado de maneiras distintas por um mesmo falante, e pode ser lido e interpretado de maneiras distintas por um mesmo interlocutor.
A tipologia textual condiciona a formulação do enunciado a modelos preexistentes. Dessa maneira, o falante deve conhecer as particularidades dos tipos de texto, adequando sua mensagem a eles, assim como o interlocutor deve conhecê-las também, para poder fazer a leitura da mensagem.
Podemos concluir que o falante deve, além de observar suas próprias capacidades e características, prestar muita atenção nas capacidades e características de seu interlocutor. Quanto mais comuns forem as características do falante e do interlocutor, maior o êxito do processo comunicativo.
- Mais uma vez voltamos ao mesmo conceito: ADEQUAÇÃO - noção fundamental para a interação social.
Recursos textuais para a montagem da mensagem
A) A INTENCIONALIDADE
Assim como o até, outras palavras funcionam como elementos persuasivos:
- aliás, ainda, também, só, nem mesmo, no mínimo, etc.
B) A REFERÊNCIA SITUACIONAL
Referenciação extratextual
O processo comunicativo acontece em um determinado contexto situacional: lugar, tempo, participantes. Essas circunstâncias situacionais aparecem no texto por meio de palavras, que só adquirem significado, quando associadas a um REFERENTE.
- Referência textual - Quando o referente está no próprio texto
- Referência extratextual - Quando o referente está em um contexto extratextual (fora do texto)
- A quem se refere o pronome pessoal VOCÊ no título da matéria?
O "você" marca a 2ª pessoa do discurso, isto é o INTERLOCUTOR.
Esse INTERLOCUTOR é o leitor da revista.
Poderíamos individualizar esse interlocutor, se pensássemos em uma determinada situação: Se JOÃO lê a matéria, naquele momento, ou seja, naquele CONTEXTO...
VOCÊ é João
- A quem se refere o DAQUI da pergunta? Temos como identificar?
Como se trata de uma revista brasileira, sabemos que deve ser de algum lugar do Brasil. se o leitor está no Maranhão, o DAQUI é igual ao Maranhão; se está em Brasília, o DAQUI é Brasília.
Essas palavras que se preenchem de significado por meio de referências extratextuais são consideradas dêiticas, pois remetem às circunstâncias situacionais do processo de comunicação. E as referências das palavras dêiticas são chamadas de exofóricas (ex(o) - = fora), por estarem fora do contexto textual.
Alguns itens que podem funcionar como dêiticos:
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Coimbra, julho, 1843)
DIAS, Gonçalves. Obras poéticas de Antônio Gonçalves Dias. São Paulo: Nacional, 1944.
BIOGRAFIA DE GONÇALVES DIAS
O poeta Antônio Gonçalves Dias, que se orgulhava de ter no sangue as três raças formadoras do povo brasileiro (branca, indígena e negra), nasceu no Maranhão em 10 de agosto de 1823. Em 1840 foi para Portugal cursar Direito na Faculdade de Coimbra. Ali, entrou em contato com os principais escritores da primeira fase do Romantismo português.Em 1843, inspirado na saudade da pátria, escreveu "Canção do Exílio". No ano seguinte graduou-se bacharel em Direito. De volta ao Brasil, iniciou uma fase de intensa produção literária. Em 1849, junto com Araújo Porto Alegre e Joaquim Manuel de Macedo, fundou a revista "Guanabara". Com o objetivo de mudar de vida, embarca novamente para a Europa, onde passa uma temporada. Com a saRelúde abalada, ele resolve, anos mias tarde, voltar ao Brasil. Na viagem, porém, morre no naufrágio do navio Ville de Boulogne, em 1864, próximo ao Maranhão. Se por um lado deve-se a Gonçalves de Magalhães a introdução do Romantismo no Brasil, por outro, deve-se a Gonçalves Dias a sua consolidação. Isso porque o poeta trabalhou com maestria todas as características iniciais da primeira fase do Romantismo brasileiro. De sua obra, geralmente dividida em lírica, medieval e nacionalista, destacam-se "I-juca Pirama", "Os Tibiramas" e "Canção do Tamoio".
http://www.sohistoria.com.br/biografias/goncalves/
Para a construção do sentido no texto é necessário localizar os referentes dos advérbios AQUI e LÁ.
- Tente identificá-los através das informações contidas na página deste blog.
C) A REFERÊNCIA TEXTUAL
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI185166-15224,00-QUESTAO+DE+CALCULO.html
- Algumas palavras, também "vazias" de conteúdo semântico, podem não ter sua referência no contexto extratextual, mas sim no contexto textual, isto é no próprio texto da mensagem.
- Relações anafóricas e catafóricas
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI185166-15224,00-QUESTAO+DE+CALCULO.html
- Algumas palavras, também "vazias" de conteúdo semântico, podem não ter sua referência no contexto extratextual, mas sim no contexto textual, isto é no próprio texto da mensagem.
- Qual é o REFERENTE da palavra DAQUI no texto? Onde o encontramos?
- Trata-se de uma referência endofórica (end (o) = dentro);
- No texto anterior o referente ao DAQUI estava fora do texto.
- No texto acima o referente vem antes ou depois do DAQUI?
Observe o texto abaixo:
Nas vésperas da Páscoa, pesquisadores da Finlândia anunciam que comer chocolate durante a gravidez torna os bebês mais sorridentes e ativos. Mas médicos daqui do Brasil têm algumas ressalvas.
- Neste caso o referente (Brasil) aparece depois do advérbio
Essas referências textuais têm uma função muito importante: a coesão do texto, articulando e relacionando as informações que estão presentes nele.
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ATIVIDADES
Texto para as questões de 1 a 4
Felipe Dylon
Por: Nilma Raquel
Publicado em: 1/2004
Qual a melhor surf trip que você já fez? Tive oportunidade de viajar com meu pai para a Califórnia e peguei boas ondas lá, apesar de a água ser congelante. Em seguida a gente foi ao Hawaii, tive grande prazer de estar naquela terra, lugar muito bonito, uma energia boa pra caramba, sem contar as ondas perfeitas. A surf trip da minha vida sem dúvida foi para o Hawaii. Qual é a surf trip dos seus sonhos? Pô, tem vários lugares que eu tenho vontade de conhecer. Quero ir à Indonésia, um lugar que vejo em filmes e fico louco. Depois dá até tédio pegar essas ondas aqui do Brasil. Tenho vontade de conhecer também a Austrália, tem um grande amigo meu que mora lá e diz que pega altas ondas com grande freqüência. Tenho vontade de conhecer muitos lugares ainda, até umas direitas lá na África do Sul, se Deus quiser, eu vou pegar.
Como você se vê daqui a dez anos?
Acho que estarei fazendo mais shows, com uma quantidade maior de gente gostando do meu trabalho, e eu continuarei o mesmo moleque de sempre, surfista, que gosta da natureza, do mar e de curtir, como qualquer outra pessoa.
1. Observe os pronomes pessoais de primeira, segunda e terceira pessoas que aparecem ao longo do texto (eu / você / ele). Quais são os seus referentes?
2. Releia a resposta à primeira pergunta da entrevista e comente:
a) a referência extratextual dos tempos verbais empregados;
b) o tipo de referenciação dos circunstanciais lá e naquela terra.
3. Após uma nova leitura da resposta à segunda pergunta:
a) evidencie algumas "palavrinhas" argumentativas, re-escreva o parágrafo sem elas e compare-o com a versão original;
b) no trecho "Depois dá até tédio pegar essas ondas aqui do Brasil", comente a relação entre as palavras destacadas e o valor semântico do demonstrativo;
c) explique o tipo de referenciação do advérbio lá, que aparece duas vezes, comparando os casos.
4. O referente do advérbio daqui da última pergunta é textual ou situacional? justifique sua resposta.
Texto para as questões de 5 a 8
5. Considerando que a tira se vale de uma linguagem verbo-visual, em que a parte verbal equivale ao contexto textual e a visual ao contexto situacional ou extratextual, que tipo de referenciação há no primeiro quadrinho, pensando no demonstrativo esta?
6. No segundo quadrinho, há uma palavra que faz referenciação de noção temporal. Aponte-a e comente o tipo de referenciação que faz.
7. Comente as referenciações feitas pelos pronomes pessoais que marcam a primeira e a segunda pessoa do discurso, tomando como exemplo o você do segundo quadrinho e o eu do terceiro.
8. Em que consiste o humor da tira no último quadrinho? Relacione sua resposta aos conceitos de referenciação endofórica e exofórica.
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PRODUÇÃO TEXTUAL
Proposta de redação do ENEM 2004
Leia com atenção os seguintes textos:
1)
2)
Os programas sensacionalistas do rádio e os programas policiais de final da tarde em televisão saciam curiosidades perversas e até mórbidas tirando sua matéria-prima do drama de cidadãos humildes que aparecem nas delegacias como suspeitos de pequenos crimes. Ali, são entrevistados por intimidação. As câmeras invadem barracos e cortiços, e gravam sem pedir licença a estupefação de famílias de baixíssima renda que não sabem direito o que se passa: um parente é suspeito de estupro, ou o vizinho acaba de ser preso por tráfico, ou o primo morreu no massacre de fim de semana no bar da esquina. A polícia chega atirando; a mídia chega filmando.
Eugênio Bucci. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
3)
Quem fiscaliza [a imprensa]? Trata-se de tema complexo porque remete para a questão da responsabilidade não só das empresas de comunicação como também dos jornalistas. Alguns países, como a Suécia e a Grã-Bretanha, vêm há anos tentando resolver o problema da responsabilidade do jornalismo por meio de mecanismos que incentivam a auto-regulação da mídia.
4)
No Brasil, entre outras organizações, existe o Observatório da Imprensa – entidade civil, não-governamental e não partidária –, que pretende acompanhar o desempenho da mídia brasileira. Em sua página eletrônica , lê-se:
Os meios de comunicação de massa são majoritariamente produzidos por empresas privadas cujas decisões atendem legitimamente aos desígnios de seus acionistas ou representantes. Mas o produto jornalístico é, inquestionavelmente, um serviço público, com garantias e privilégios específicos previstos na Constituição Federal, o que pressupõe contrapartidas em deveres e responsabilidades sociais.
5)
Incisos do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988:
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
- Com base nas ideias presentes nos textos acima, redija uma dissertação em prosa sobre o seguinte tema: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?
Podemos ver que a coletânea textual da proposta de redação do ENEM 2004 era relativamente longa, já que possui cinco textos (um não verbal e quatro verbais), o que subsidiava, e bem, a escrita do candidato, que foi bem motivado por todos os textos, já que cada um coloca um item acerca do tema e, assim, criam o recorte da prova.
O primeiro texto da coletânea é uma charge de Caco Galhardo, de 2001, que retrata a sua visão acerca do papel da televisão na casa de uma típica família brasileira; a sua representação por meio do desenho de um latão de lixo, com antenas e ligado à tomada, transbordando e com moscas e as expressões faciais das pessoas, sentadas à sua frente, expressam muito bem a opinião de Caco sobre ela: literalmente, um lixo alienante, dadas as feições das personagens.
Obviamente, esta charge é uma crítica explícita à televisão, mas o candidato poderia refletir sobre o papel dos telespectadores, já que estes possuem o direito de escolher o que irão assistir e o direito de não assistir, de desligar o aparelho. Neste ponto é importante tomar cuidado para não cair no senso comum e afirmar que a culpa de todos os males é a mídia televisiva; claro que ela possui sua culpa (senão não seria tema, inclusive, de um ENEM), que tende a manipular, incentivar as pessoas, mas estas são seres pensantes que podem e devem responder ativamente, aceitando ou não, o que veem. Bom senso, sem generalizações e ponderação são essenciais. Aliás, esta colocação pode ser a proposta de intervenção social: senso crítico por parte dos telespectadores. Como formá-lo? Como a escola pode auxiliar nesta questão, por exemplo?
O segundo texto é de autoria do professor da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo) e jornalista Eugênio Bucci no qual aborda os programas, de rádio e televisão, policiais que, segundo ele, invadem a cena do crime, as casas dos criminosos e/ou de seus familiares de modo sensacionalista para explorarem situações difícies, nas quais muitos fatores, como a pobreza e a miséria, estão presentes. Todos nós conhecemos, já vimos um pedacinho que seja de programas como esses, que parecem escorrer sangue e Bucci até os relaciona com a polícia: esta chega atirando (às vezes sem saber quem é culpado ou inocente) e a mídia chega filmando, como se a câmera e o microfone fossem, também, armas que invadem a dor e a desgraça alheia.
Este tipo de programação televisiva é, sem dúvida, para o autor e para a banca elaboradora da avaliação da prova de redação do ENEM, um exemplo de abuso nos meios de comunicação, já que é sensacionalista, algo que sempre existiu, mas como combatê-la se há quem a assista? Estes programas continuariam existindo se sua audiência diminuísse? Se uma boa parte da população deixasse de assisti-los?
O terceiro texto trata da fiscalização da imprensa, não só dos meios de comunicação como empresas, mas também de seus jornalistas e traz exemplos de países europeus que tentam, há anos, promover uma auto-regulação,isto é, que os próprios meios de comunicação se auto-regulem.
O quarto texto, um trecho adaptado do site do Observatório de Imprensa, lembra que os meios de comunicação de massa, como os canais da televisão aberta, apesar de os obterem através de concessões governamentais, são majoritariamente empresas privadas que atendem aos interesses de seus acionistas, mas que o jornalismo, em si, é um serviço público que presta serviço à população, contemplado pela Constituição (quinto e último texto da coletânea) que, por sua vez, coloca como livre a liberdade de expressão e bane a censura, mas ao mesmo tempo declara inviolável a intimidade, a imagem e a honra das pessoas, cabendo indenização por dano moral ou material.
Aqui, pode-se discutir os meios que o jornalismo usa para produzir notícias e reportagens. Usar uma imagem sem autorização, invadir a vida privada de uma pessoa a fim de obter imagens ou informações, manipular entrevistas e declarações, utilizar outros textos para fazer um “novo”, manipulação de imagens dentre outras estratégias são atitudes questionáveis, mas praticadas por alguns meios de comunicação como jornais (impressos ou televisionados) e revistas.
Como ter a liberdade de expressão e de comunicação dos meios de comunicação garantida se há sérios abusos? Uma auto-regulação, uma fiscalização por parte do governo é a volta da censura da ditadura? Aliás, a imprensa na época do AI-5 é algo histórico que pode ser relacionado a este tema; o debate entre censura, liberdade, democracia e fiscalização é uma questão muito interessante e produtiva, já que os limites são muito tênues.
Outro ponto interesse de abordagem do tema do ENEM 2004 é a questão da imparcialidade jornalística, tão requisitada, mas ela existe, realmente? É possível ser neutro? É possível ser imparcial mesmo sabendo que temos opiniões sobre tudo e sobre todos? Como obter um meio de comunicação neutro se os de massa são empresas que têm as mais diversas ligações com as mais variadas pessoas, inclusive políticos?
Este tema provoca muitos questionamentos e reflexões e, consequentemente, muitos caminhos para o seu desenvolvimento, mas reconhecer os abusos e como combatê-los é o principal neste texto. Por onde você iria?
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas/SP – Atua na área de Educação exercendo funções relativas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação na 1ª fase e de Língua Portuguesa na 2ª fase do vestibular 2013 da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas/SP. Participou de avaliações e produções de diversos materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação.
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